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Camacan e a Conferência de Paris

"Estamos cuidando do nosso planeta ”como se a geração presente fosse a última”

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Frederico Borges é Advogado e um dos Coordenadores do Instituto Àguas Nascentes. Foto / O Tempo Jornalismo

Na próxima segunda-feira, (30), lideranças dos mais importantes países de mundo estarão reunidas em Paris para discutirem o problema do aquecimento global. O assunto preocupa a comunidade internacional desde a Declaração de Estocolmo em 1972, cujos fundamentos serviram de base para a Cúpula da Terra – Rio 92, quando foram assinados os primeiros protocolos em que os governos se comprometiam em limitar a emissão dos gases que geram o efeito estufa. Kioto tratou do problema. Copenhague, em grande mobilização, também. Eis que, apesar de toda essa preocupação e das tímidas medidas levadas a efeito, o problema, em vez de arrefecer, acentuou-se. O desmatamento indiscriminado, em que o Brasil sobressai, a queima de combustíveis fósseis, o envenenamento dos rios, o assoreamento, a matança das nascentes, o avanço sem planejamento das fronteiras agrícolas, tudo isso vem contribuindo para a drástica mudança do clima com a elevação da temperatura do globo terrestre.

Verdade é que a Terra está desprotegida; estamos cuidando do nosso planeta ”como se a geração presente fosse a última”.  Como se o futuro não nos interessasse e, assim, que se dane o futuro. Estamos sempre na crença de que os problemas do mundo são gerados lá fora; e que as soluções virão como num passe de mágica, sempre pelos outros. Que não temos responsabilidade pelo que acontece no presente, pois estamos apenas dando continuidade às mazelas do passado: O futuro que se enfrente e cuide de si mesmo.

Mas estamos em Camacã, um pedaço remoto do Brasil. De incontáveis riquezas naturais. Há cinquenta anos, aqui chovia quase todos os dias. Nossas matas verdejantes indicavam um paraíso sem fim. Havia sempre um córrego, um rio ali adiante. As nascentes minavam aqui e ali, e suas águas sonorizavam as grotas, como cantigas da natureza. Isso por si só seria uma fonte imensurável de riqueza.

Mas são coisas do passado, estão desmatando tudo. São trinta anos de machado e fogo. Hoje são raras as nascentes e minações.

Os córregos estão secando. O Panelão e o Panelinha pedem socorro, o Água Preta também. O Rio Pardo, que a custo se vencia a nado, hoje está assoreado, nem se molham os pés na travessia. Sem nenhum planejamento, sem nenhuma ordem, os pastos tomam o lugar das roças de cacau em cabruca. As pastagens avançam serra acima trazendo erosão, assoreando os rios. Muitas vezes estão desmatando e queimando para coisa nenhuma. Faz noventa dias que não chove.

E nada é feito. É como se esta geração não tivesse nenhuma conta a prestar ao futuro.

Pois é. Vários Estados  – e o Brasil é protagonista – estão reunidos em Paris para tratar dos problemas do planeta. Da escassez de água que já atinge a África, que já atinge São Paulo, que já atinge o Nordeste, que atingirá o mundo todo, inclusive a nossa casa, se nossos braços continuarem cruzados. Pois é, as lideranças mundiais estão discutindo o aquecimento global que ameaça a presença do homem sobre a Terra. O Papa Francisco, com a força da sua liderança, na Encíclica Laudato Si’ (Louvado Sejas) – sobre o cuidado da casa comum – expõe sua preocupação, e alerta.

E nós?

A riqueza de Camacã, do Sul da Bahia, para bem dizer, não está na derrubada e na queimada das nossas matas, do que resta delas. Esta riqueza é finita e não pertence apenas a esta geração. Pertence ao futuro, aos nossos filhos e aos nossos netos. O interessante não é sabermos o que estamos construindo de grandioso para o presente, é o que seremos capazes de deixar para o amanhã.

Esta é a preocupação do Instituto Águas Nascentes, que se associa aos esforços da Conferência de Paris para o Clima.

Frederico Borges

Camacã(Ba), 27 de novembro de 2015.

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